Mesmo que o Natal e o período de festividades de final de ano tenha acabado, ainda é tempo de curtir bons filmes com essa temática, afinal, quem não adora uma boa comédia natalina? Sempre é bom aproveitar essa época do ano para reunirmos família, amigos e pessoas que amamos para aproveitarmos o máximo de tempo ao lado deles. Mas e quando não podemos fazer isso e ficamos presos em uma escola com pessoas que não temos o mínimo de afeto e intimidação? Parece um pesadelo, não? Esse é o ponto crucial da trama de Os Rejeitados, ótima comédia dramática da Universal Pictures, dirigida por Alexander Payne e estrelada por Paul Giamatti (vencedor do Globo de Ouro 2024 de Melhor Ator em filme de comédia ou musical), Da’Vine Joy Randolph (vencedora do Globo de Ouro 2024 de Melhor Atriz Coadjuvante) e Dominic Sessa. Vemos um estudante, um professor e uma cozinheira tendo que lidar com dramas pessoais durante o Natal em que ficam “presos” dentro de uma escola.
Passar o Natal com pessoas indesejadas pode ser um pesadelo… ou não
A história se passa em 1970 no colégio Barton, escola de alto nível para garotos ricos, onde o professor Paul Hunham (Paul Giamatti) dá aulas de história antiga. Ele tem fama de ser aquele professor chato, extremamente exigente e nada flexível com os alunos, além da comissão de sempre reprovar os estudantes. Hunham recebe a tarefa de ficar na escola para cuidar dos estudantes que não podem voltar para casa e passar o fim de ano com a família, após um colega professor que seria responsável por passar as festividades dentro do colégio mentia para se livrar desse fardo.
Depois disso, conhecemos Angus Tully (Dominic Sessa), um jovem rebelde que se prepara junto com os demais alunos para visitar a família e deixar os dormitórios de Barton. Tully tem personalidade forte, é cheio de piadinhas com os colegas, porém não deixa de se esforçar na escola. Após conhecermos Tully e alguns colegas dele, pulamos para uma missa de celebração de fim do ano em homenagem ao ex-aluno Curtis Lamb, que faleceu durante a guerra do Vietnã. Curtis era filho de Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph), cozinheira do colégio.
Ao final da missa, vemos o professor Hunham passar instruções aos estudantes que permaneceriam no colégio durante as festividades de fim de ano. Um deles estava ali por ser sul-coreano e os pais estavam muito longe dos Estados Unidos; outro pelo pai não aprovar o corte de cabelo. Então, outro aluno se um a eles, Angus, que iria passar o Natal com a família, mas de repente recebe a notícia de que sua mãe e padrasto não iriam buscá-lo mais e ele teria que permanecer no colégio, seu maior pesadelo. Ficar preso com colegas sem um pingo de intimidação e o vínculo torna esse período quase que insuportável para Tully, e fica pior ainda quando o pai rico de um deles decide buscar os outros colegas, o que faz com que o jovem rebelde fique apenas com o professor Hunham e a cozinheira Mary.
O público pode agradecer tal pai rico, pois, sem isso, não tivemos uma das melhores construções de relacionamento entre personagens que já vi.
Três personalidades diferentes formam um trio excelente
A união dos três personagens é o brilho do filme, que é excelente em diversos pontos, mas tem sua característica mais forte no desenvolvimento do relacionamento dos personagens. No início, vemos que Hunham tenta a todo momento importar uma figura superior a Tully, mas o estudante é resistente e não passa a conformidade com o professor tão facilmente. Ambos têm personalidades bastante diferentes, mas que passam a se conversar após verem que são mais semelhantes do que aparentam. A aproximação de Mary com o professor faz com que ele passe a ver o outro lado da vida, algo além dos livros e dos hobbies acadêmicos.
Contudo, esses três personagens interagindo é um deleite para os fãs de comédia. Angus é bastante debochado, o que faz com que Hunham sempre perca a paciência e proporcione momentos hilários para o espectador. Mary traz um humor bastante distinto, já que muitos dos momentos em que ela vai te fazer rir é por conta de suas expressões corporais, já que ela é bem ríspida e tem um ar de mulher dura, mas o drama que ela passa após a morte do filho, mostra que o Natal vem sendo difícil para ela.
Hunham e Tully formam uma dupla hilária. De início eles são completos opostos, sem nenhuma semelhança, porém, o convívio entre eles durante esse período mostra que os dois são duas figuras solitárias que usam de uma personalidade sarcástica e rabugenta para encobrir isso. É emocionante ver cada tijolo sendo colocado na bela amizade entre aluno e professor.
O trio arrebenta nas atuações. Joy Randolph é um encaixe perfeito para a cozinheira Mary e dá vida a uma mãe que passa por um árduo luto em uma época que era para ser alegre. Todo o tempo de tela que ela possui justifica o prêmio do Globo de Ouro que venceu. Giamatti é nada menos que espetacular. O jeito desenhado que ele dá para o professor Hunham é excelente e torna as piadas históricas ainda mais engraçadas. Faz tempo que eu não via um filme no qual os personagens principais possuem uma sinergia tão gostosa de acompanhar.
Hilário e dramático na medida certa
Os Rejeitados é um filme natalino que fala um pouco de Natal. Sem o Papai Noel nos holofotes, o longa-metragem dá espaço para momentos dramáticos que evidenciam todas as dificuldades que os personagens passam sozinhos e não expõem para ninguém. Como citado anteriormente, Tully e Hunham possuem mais semelhanças do que aparentam, sendo uma delas a depressão. Embora Mary tente esconder a tristeza do luto, em dado momento da trama é impossível manter isso encoberto, já que o longa é repleto de sentimento e transpõe esses momentos mais intimistas dos personagens.
Mesmo com momentos tristes, o filme não é melancólico, porque existem momentos hilários que arrancam grandes gargalhadas do público. Desde interações inusitadas, até piadas que brincam com história e religião de forma extremamente inteligente e brilhante. Os Rejeitados te fazem rir de forma suave e nada forçada e navegar entre o gênero do drama e da comédia de maneira consistente, embora a duração do longa-metragem o torne um pouco cansativo, principalmente na reta final, onde os dramas pessoais poderiam ganhar uma resolução mais breve.